A blogosfera está morta?

A semana que passou decorreu à sombra de alguns artigos sobre o estado da blogosfera, sendo que o tom geral dos mesmos foi o de arautos de uma morte anunciada. Mas será que a blogosfera está a soro e tem os dias contados?

[ad#ad-1] A blogosfera já não é a mesma de 1999. Esta expressão já não é polémica. É uma evidência! Os blogs deixaram de ser alternativos para serem main-stream. Passaram de voz activa independente a apenas ferramenta de publicação. Ferramenta que não fará nunca frente aos media tradicional que percebendo o que tem a ganhar com os “blogues” os começaram a incorporar nos seus meios tradicionais de prestar informação. Os artigos de jornais já tem comentários e trackbacks. Aquilo que tornava a rede de blogues tão poderosa, que era a sua capacidade de se interligar e de se linkar, de dar importância a outros similares, tornou-se de repente numa corrida para angariar links para si mesmo. A qualidade já não interessa, a produção de conteúdos próprios é uma miragem. Vive-se da reprodução dos trabalhos de outros, grita-se a todos os instantes “OLHA PARA MIM”. Com isto, os old media vingaram-se e dizem agora aos new media. Nós temos mais dinheiros que vocês…

Faz-me lembrar uma passagem do filme “Gato Preto, Gato Branco” do Emir Kusturica onde Dadan Karambolo diz “Se não podes resolver um problema com dinheiro… resolve-o com muito dinheiro”. Os old media souberam esperar, e agora pegaram numa plataforma madura e investiram nela saturando-a através dos blogues colectivos que tem 30 autores e um vomitar de artigos impossível de praticar pelo “bloguer” da viragem de século. E no final, sendo os primeiros remunerados para o fazer, naturalmente o tempo que dispensam a essa actividade é certamente maior, garantindo dessa forma uma qualidade que irá arrasar com o amador.

Haverá solução para esta tendência? Naturalmente que não. Os new media terão que andar sempre 2 passos à frente dos old media, quer em termos de conteúdos, quer em termos de plataformas e tecnologias utilizadas. Veja-se o caso do podcasting que foi produzido de forma independente durante os primeiros tempos, e que obrigou as rádios a abraçar a tecnologia sendo que hoje quando se abre o iTunes Store se tenha os Tops dominados por produções de old media adaptadas ao novo formato. O mesmo se passa no vídeo. O Youtube, outrora o feudo de produções caseiras e independentes, é agora dominado pelas televisões e produtoras de filmes. Os old media sentindo-se perder clientela nos canais tradicionais, invadem os canais para onde os utilizadores vão, qual emplastro que estraga reportagens por tanto querer aparecer no boneco.

O que fazem os utilizadores? Os utilizadores cada vez mais exigentes, querem algo diferente, não querem ver a mesma produção repetida em 50 canais de distribuição diferente e por isso fogem e procuram novas plataformas. Procuram o Twitter, o Facebook ou o FriendFeed. Tentam soluções que não possam ser dominadas pelos media tradicional e onde ainda possam ter uma voz. Para os utilizadores não se trata de uma corrida para ver quem tem mais. Trata-se de uma viagem onde podem ser ouvidos. A incursão dos old media por estes territórios é inevitável mas levará as melhores vozes para outras paragens, onde se possam afastar do ruído.

A blogósfera não está a soro, está diferente. Muitos já mudaram de sítio e dão agora voz aos seus pensamentos noutras paragens. Contudo, ainda faltará muito para que se possa considerar morta, tanto mais que o leitor começa cada vez mais a distinguir as várias blogosferas que existem. Na rádio, há aqueles que passam playlists pré-formatadas e há os que fazem programas de autor. Na blogósfera não será diferente.