A Ilha dos Amores

Mesmo depois de 500 anos passados sobre as descobertas, este continua a ser um país de Velhos do Restelo. Continuam muitos a acreditar que a imutabilidade das coisas é sinónimo de perfeição, que as aventuras e a novidade não devem ser coisa nacional. Ficam ali sentados nos seus bancos de jardins, apoiados em cajados que já mal aguentam as suas pobres carcaças, dizem mal e lamentam-se do nosso triste fado… Não mudam e ficam qual estátuas de granito empedernido a repetir a palavra do velho do poeta. Como a original tinha mais arte, mais vale ouví-la em vez, porque ouvindo-a, se ganha a força e o engenho para continuar a embarcar em caravelas e a enfrentar perigos inimagináveis. Os velhos… os velhos ficam em Lisboa… ou no Porto… ou em Lama de Ouriço. E falam, falam, falam… deixai-os falar, ninguém os ouve… Lá pelas bandas do canto nono encontram a recompensa os aventureiros…

52 De longe a Ilha viram fresca e bela, Que Vénus pelas ondas lha levava (Bem como o vento leva branca vela) Para onde a forte armada se enxergava; Que, por que não passassem, sem que nela Tomassem porto, como desejava, Para onde as naus navegam a movia A Acidália, que tudo enfim podia.(…)59 Abre a romã, mostrando a rubicunda Cor, com que tu, rubi, teu preço perdes; Entre os braços do ulmeiro está a jocunda Vide, com uns cachos roxos e outros verdes; E vós, se na vossa árvore fecunda, Peras piramidais, viver quiserdes, Entregai-vos ao dano, que, com os bicos, Em vós fazem os pássaros inicos.

in “Os Lusíadas” de Luís de Camões