Tenho passado os últimos dias atento ao que se tem passado no mundo da fotografia, principalmente a fotografia digital, lendo sobre o que a Canon lançou, ou o que a Panasonic lançou ou mesmo sobre o que a Leica irá lançar e que todos parecem já conhecer. A verdade é que no fim do dia, depois de ler imensas opiniões, reviews e análise técnicas acabo sempre por me colocar a questão “Porque é que isto é importante? Porque preciso desta ou daquela funcionalidade?”.
A fotografia é o resultado da manipulação de 3 variáveis: abertura do diafragma, velocidade do obturador, sensibilidade do material de recolha da luz (filme ou sensor digital).
Se a fotografia é o resultado da exploração das possibilidades destas 3 variáveis, quer isto dizer que a máquina “mais manual” de todas será aquela em que as 3 variáveis possam ser definidas de forma perfeitamente independente. Isto era efectivamente o que acontecia nos anos de ouro da fotografia. As máquinas limitavam-se a ser um instrumento onde o fotógrafo começava por escolher o filme a utilizar, definido uma das variáveis e dessa forma reduzindo cada foto a uma exploração no plano 2D velocidade vs abertura.
O facto deste sistema ter duas variáveis livres faz com que nem todas as combinações sejam “agradáveis”, cabendo ao fotógrafo a escolha da melhor combinação. As companhias de máquinas fotográficas, procurando alargar a base de vendas, começaram a incluir “programas” nas máquinas. Estes partem do pressuposto que nesse plano 2D há uma linha que dá uma “exposição correcta[sic]” definida numa escala de cinzentos, um cartão 18% de cinza cairia na zona V do Ansel Adams. Ou seja, as companhias definiram que a fotografia ideal estaria ali no meio, na média, e com isso os “programas” começaram a calcular a velocidade correcta dessa linha para uma determinada abertura. Foi inventado o modo A (de Automatic Exposure).
Mas não chegando, por vezes os utilizadores de máquinas fotográficas eram mais burros ainda, que não sabiam o que era a profundidade de campo e não saberiam se queriam utilizar uma grande abertura com uma velocidade mais alta ou uma pequena abertura com uma velocidade mais baixa, pelo que inventaram uns programas P que faziam tudo pelo utilizador. A este restava unicamente o papel de focar a lente sendo. Isso também acabou rapidamente, porque inventaram as lentes auto focus e os corpos que não deixavam fotografar se por acaso a área debaixo no sensor de AF não estivesse em fase. Nesta altura o utilizador era só o gajo que segurava a máquina, o tripé biológico. O assistente da faz tudo máquina fotográfica. Então porque se continuava a intitular de fotógrafo se não decidia [quase] nada?
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