Há algo que me incomoda na forma como a direcção geral da administração interna decidiu não repetir as eleições nas freguesias que boicotaram no domingo com o argumento de que não iriam nunca afectar os resultados.
Trata-se de um entendimento do acto eleitoral completamente obtuso, “que só serve para eleger políticos”, e nada mais. Votar em democracia não é eleger políticos, é um acto de cidadania e de liberdade de escolha. É o próprio acto que é importante. Os resultados são só uma consequência posterior.
Dizer a quem foi impedido de votar no Domingo que não pode expressar a sua vontade é uma violação crassa dos direitos do cidadão, impedindo-o de expressar pelo voto a sua opinião (mesmo que para efeitos práticos não altere a contagem dos deputados eleitos).
O acto eleitoral é universal e impedir que tal aconteça por razões económicas mostra que o voto e a democracia valem muito pouco para quem tal decidiu e que serve apenas como instrumento da manutenção de uma elite política.
E o pior de tudo? Não se vislumbram os editoriais dos jornais a protestar. O assunto aliás parece ter desaparecido dos poucos jornais que tocaram no assunto. Não convém chatear os amigos no poder. Afinal para que servem meia dúzia de votos duns portugueses quaisquer?