[ad#ad-1] A indústria da música, como de costume, é perfeita, não faz asneiras. O seu modelo de negócio foi estabelecido no tempo dos gramofones e não precisa de mudar. A AFP (associação fonográfica portuguesa) descobriu que em 2008 a venda de música em Portugal caiu 11,5% e imediatamente veio para a imprensa culpar a “pirataria” esse monstro de costas largas que serve para amparar as asneiras e mentiras da indústria.
Diz o director da AFP que a crise da música está directamente relacionada com a pirataria da música na Internet. COMO? Onde é que o senhor fundamentou esta opinião? Pode mostrar os estudos que imputam a diminuição de vendas com o aumento da pirataria? Aliás, certamente não leu / ouviu um estudo dos hábitos do consumidor feito pelo Grupo NPD em que as conclusões são simplesmente diferentes ou o artigo do The Guardian em 2008 que mostra que a música pirateada na internet é uma fracção da música pirateada[1b]:
Mais, diz ainda “Há gerações que não compram música, só fazem downloads pela Internet e há um trabalho que está por fazer”. O senhor deve saber mais do que nós. Primeiro utiliza GERAÇÕES, no plural como se todos os que conhecemos, desde o meu avô de 95 anos ao meu gato fossem bandidos. Pode indicar estudos que mostrem a estratificação por idades (já que fala em gerações) daqueles que fazem pirataria? E como o senhor não fez o trabalho de casa não sabe de estudos que dizem exactamente coisas como: “digital music sales will grow at a compound annual growth rate of 23% over the next five years”[1a]
Mas acham que acaba aqui? Logo a seguir diz com toda a autoridade que a presidência de uma associação lhe dá: “É muito difícil o iTunes conseguir singrar se num site ao lado um mesmo álbum for disponibilizado gratuitamente.” COMO? O que sabe o senhor da AFP que o presidente da Apple não sabe? É que olhando para o que saiu nos últimos anos em termos de vendas é, só para exemplificar:
2005 – iTunes storms into top 10 music sales chart [1]
2005 – iTunes scores 80 per cent of UK downloads [2]
2006 – “revenue on iTunes soared by 84%. In addition, the number of transactions jumped 67%, and the amount spent per transaction was up 10%.”[3]
2007 – “The iTunes service wields incredible power in the music business, since it accounts for more than 76 percent of digital music sales. And its influence is on the rise: Apple recently passed Amazon to become the third-biggest seller of music over all, behind Wal-Mart and Best Buy, according to the market research firm NPD.”[4]
2007 – iTunes Music Store—songs sold Launch: April 28, 2003 25 million songs: Dec. 15, 2003 “Over” 70 million songs: April 28, 2004 100 million songs: July 12, 2004 150 million songs: Oct. 15, 2004 200 million songs: Dec. 16, 2004 250 million songs: Jan. 24, 2005 (50 million in 38 days) 300 million songs: March 2, 2005 (50 million in 36 days) 350 million songs: April 13, 2005 (50 million in 41 days) 400 million songs: May 9, 2005 (50 million in 30 days) 500 million songs: July 5, 2005 (100 million in 57 days) “Over” 600 million songs: Oct. 25, 2005 (“over” 100 million in 112 days) 850 million songs: Jan. 10, 2006 (250 million in 76 days) 1 billion songs: Feb. 22, 2006 (150 million in 42 days) 1.5 billion songs: Oct. 26, 2006 (500 million in 246 days) 2 billion songs: Jan. 9, 2007 (500 million in 80 days) 2.5 billion songs: April 1, 2007 (500 million in 82 days) [5]
2008 – iTunes Records a Sales Milestone – Apple Inc. has surpassed Wal-Mart to become America’s No. 1 music store, the first time that a seller of digital downloads has ever beaten the big CD retailers. [6]
A verdade é que estes links e sites mostram um cenário muito diferente daquele que o presidente da AFP quer fazer passar. O problema não é achar que a pirataria é má. Todos achamos e seria óptimo que houvesse um mundo onde não existisse, de qualquer tipo, mas a verdade está na forma como a indústria se tem comportado. A indústria acha que “tem direito” a vender todos os anos mais. A indústria acha que quando o seu modelo de negócio está a falhar, em vez de perceber porque perdeu 20 milhões de compradores de CDs (nos EUA e que não foram para outros meios), é mais fácil atirar a culpa para um lado obscuro e ilegal chamado pirataria digital. A AFP não quer acabar com a pirataria. A AFP quer apenas receber mais dinheiro. O dinheiro que ela acha que tem direito segundo um modelo de negócio que as pessoas cada vez menos querem. E pior que tudo o resto é que vem para uma imprensa acrítica que lhes dá voz sem fazer um pouco de investigação. Como o que é dito vem de uma “associação” deve ser verdade! E basta colocar o que a pessoa disse entre aspas para que a imprensa se escuse a fazer um pouco de investigação. A estratégia da AFP é clara. Criar um panorama negro, irreal, de forma a que futuramente legislação que garanta a perpetuação do seu negócio falhado, seja aprovada. Ainda por cima não se coíbe de acusar tudo e todos, inclusive de inventar factos no que diz respeito ao iTunes para tentar justificar o seu ponto de vista. Já o vimos no passado com tantas outra medidas e polémicas. Infelizmente é pena que assim seja.
Referencias: [1b] – The Guardian [1a] – Music downloads to surpass CD sales by 2012, Forrester study says [1] – Silicon.com [2] – Silicon.com [3] – InformationWeek [4] – New York Times [5] – macsimumnews [6] – LA Times