Eleições americanas

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Já falei aqui das eleições americanas e apesar de serem mais ou menos como as nossas cá pela chafarica, tem uma coisa interessante: Tudo é proporcionalmente maior. Os gastos, os discursos, os debates, os comentários e os comentadores… Tudo se processa numa escala incompreensível para quem vê a política portuguesa pelo canudo dos mesmos de sempre, chatos, chatérrimos aliás… comentadores (já uma vez apelidados de “paineleiros”) nacionais.

Uma das questões que se coloca agora na campanha para as primárias e depois de 10 vitórias consecutivas de Obama é porque a Hillary ainda não atirou a toalha ao tapete para não prejudicar o partido. Eugene Robinson coloca a pergunta melhor que eu no artigo que escreveu para o Truthdig, pelo que aconselho a passar por lá.

Efectivamente concordo com o ponto de vista do autor do artigo, mas penso ainda que a não desistência da Clinton tem a ver com algo mais profundo nos EUA. A sua resiliência prende-se com o apoio que o seu partido lhe presta e que numa situação de equivalência preferirá a candidata que andou a preparar nos últimos 8 anos, ao novato com o novo discurso. Para além disso nas sondagens Barack contra McCain e Clinton contra McCain parece estar tudo muito equilibrado com ligeira vantagem para Barack. Contudo estas sondagens estão muito equilibradas. Caso no futuro próximo esta sondagem se desequilibre para um dos lados então o partido democrata terá que rapidamente impor um vencedor, caso contrário arrisca-se a depenar os cofres dos patrocinadores para a verdadeira campanha contra o partido republicano. Isto para além de andar a abrir feridas internas… e ninguém pense que os Republicanos vão ficar parados à espera que os Democratas se recomponham…

Facebook em perda?

Foto de a*

Segundo o profundo e sempre sério The Register o site social Facebook perdeu pela primeira vez visitantes durante o mês de Janeiro. 5%. Mas parece que não é só o Facebook a perder visitantes. O Bebo parece que perdeu 8% e o MySpace 14%. Isto são números do Reino Unido, mas poderá revelar uma tendência? Estarão as pessoas fartas dos Sites Sociais ou será apenas que começam a ser tantos que as pessoas se dispersam e não podem participar de todos? É que com tanto por onde escolher, o mercado não pode ser infinito. Há limites para o número de horas que se passa online, mesmo que sejam 25 ou 26 por dia.

Em todo o caso se efectivamente for o fim do crescimento do Facebook, mais uma vez se percebe a jogada de génio do Mark Zuckerberg quando vendou parte da sua cota, mesmo antes dos VCs, para garantir algum dinheiro…

Update: A notícia apareceu também no The Guardian e na CNET,

Censura?

Por causa de notícias que tem surgido de alguma censura na internet este blog hoje sente-se assim:

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A fotografia é do grande Helmut Newton, falecido há cerca de 4 anos e que foi um dos maiores fotógrafos de moda do século XX.

Nota: este post também foi censurado no Prt.Sc

Update: para que não haja dúvidas, a partir deste momento, pedi para não estar agregado no planeta Prt.Sc

HD-DVD Morreu…

Já estava mais que moribundo, quase sem conseguir aguentar-se em pé… mas havia ainda quem achava que o formato poderia aguentar-se, mas hoje com o anúncio da Toshiba que irá deixar de fabricar equipamento HD-DVD a lâmina da guilhotina caiu a toda a velocidade.

Isto deixa o Blu-Ray como o vencedor do formato embora para já quer a quantidade de filmes disponível, quer o preço …

Uma das questões que se coloca agora é a de saber se o formato tem só por si capacidade para se aguentar ou se com o surgimento de novas formas de distribuição de conteúdos nomeadamente com o streamming não estará condenado a seguir o HD-DVD daqui a uns anos.

Entretanto a Toshiba diz que vai continuar a vender HD-DVDs enquanto os tiver em stock, mas não vai investir mais recursos no desenvolvimento de novos aparelhos.

Sobre a guerra Microsoft Yahoo

A proposta de compra do Yahoo por parte da Microsoft parece que pode rebentar numa guerra. Pelo menos se atendermos à rejeição por parte do Yahoo da OPA. Mas poderá mesmo assim o Yahoo entrar nesta guerra? Qual o verdadeiro objectivo da Microsoft?

Começando pelo Yahoo: Está com uma posição fragilizada, porque desde há cerca de um ano onde a cotação andava em torno dos 30$ que tem vindo a cair lentamente atingindo alguns dias antes da OPA o valor mínimo de 21$. Um valor óptimo para agradar à Microsoft. Para além disso a empresa não tem conseguido inverter a descida nos resultados e aproximar-se do Google em termos do mercado de pesquisa. Mercado este que só é útil porque permite vender publicidade e na publicidade normalmente quem tem a maior fatia leva tudo… (ou quase). Para além disso pretendia ainda despedir cerca de 1000 funcionários.

Assim, o Yahoo estava a jeito para que alguém o tentasse comprar. A Microsoft olhou para o valor das acções do Yahoo e atirou-se no dia 1 de Fevereiro (é também curioso como as acções do Yahoo subiram em flecha nos dias anteriores a se saber da proposta da Microsoft? Hm? Inside Trading? Será que alguém desatou a comprar Yahoo na administração da Microsoft?). Curiosamente a Microsoft e Yahoo juntas continuam a ser mais pequenas que o Google no mercado dos motores de busca e publicidade online, o que torna cria algumas dúvidas quanto à compra. Mas isto tudo passa por uma estratégia de expansão da Microsoft para outras áreas de mercado atacando aquele que tem sido até agora o monopólio do Google (75%).

O Google foi aliás o primeiro a reagir a uma possível compra através do seu blog oficial procurando fazer a vida negra à Microsoft (aliás da mesma forma como a Microsoft fez ao Google quando este comprou a Doubleclick).

Entretanto começaram os rumores que a direcção do Yahoo iria rejeitar a oferta de aquisição por parte da Microsoft e surgiram rapidamente as “alternativas”. Estas “alternativas” não são mais do que a jogatana negocial comum neste tipo de situações.

Fala-se na possibilidade da Yahoo comprar a AOL para desmotivar a compra da Microsoft, fala-se que a Apple poderia comprar o Yahoo, fala-se de uma aliança entre Yahoo e Google… … ok, fala-se tudo porque no final a direcção do Yahoo acabou por rejeitar a venda, mas não fechou completamente as portas a um “aumento” de preço…

A Microsoft não perdeu tempo a dar o passo seguinte e já anunciou que talvez a decisão da direcção do Yahoo não seja a mesma que a dos accionistas. Quer isto dizer que vai à guerra e se conseguir convencer alguns grandes accionistas a vender, estes irão fazer muita pressão dentro do Yahoo.

A lógica do Yahoo de rejeitar à espera de mais dinheiro é tentadora, mas a verdade é que havia muitos accionistas prontos para vender (a Microsoft ofereceu 65% mais que o valor da véspera) e quando a direcção rejeitou a oferta, as acções caíram novamente. Numa situação destas, normalmente a empresa mais pequena tem poucas hipóteses para fugir. Atendendo a que o negócio não está a correr bem e nos próximos tempos vai tomar decisões baseadas na ideia de aumentar o valor da OPA em vez de decisões para melhor o seu negócio, a pressão para o lado do Yahoo são enormes.

Seja qual for o desfecho desta guerra, há para já um vencedor claro. O Google, que vê a sua posição reconhecida e ainda por cima com um papel activo, fazendo lobby para proteger o seu monopólio. Por outro lado a Apple que se decidir estragar o negócio à Microsoft vai ter na direcção do Yahoo uma direcção muito amiga de Cupertino. Se o negócio se concretizar o Google mesmo assim ainda tem uma folga da talvez um ano até que a combinação Microsoft-Yahoo comece a fazer efeito, porque estas compras levam sempre algum tempo a acontecer e embora o Google já não tenha a capacidade de mudar como antigamente, ainda consegue ser mais rápido de rins que a Microsoft.

Há também um perdedor. O Yahoo. Porque não sairá desta guerra da mesma forma como entrou. Depois de ser uma das poucas empresas Web 1.0 a ter sobrevivido ao Crash das dot.com o Yahoo vai precisar de muita imaginação para sobreviver novamente, porque mesmo que não casando com a Microsoft, muito provavelmente terá que forjar outro tipo de alianças que no futuro o deixarão fragilizado.

A Censura à Internet

Foto de NaOH

Ultimamente tem começado a surgir notícias muito preocupantes no que diz respeito ao futuro da internet tal como a conhecemos hoje, principalmente porque os políticos começaram a querer decidir sobre o assunto. Mais sobre isto adiante.

Na Dinamarca um tribunal decidiu obrigar um ISP a bloquear o site thepiratebay.org argumentando que o ISP Tele2 ajudou à violação dos direitos de autor na medida em que quando os seu utilizadores utilizavam o thepiratebay.org haveria cópias de material pirateado nos routers do ISP. Contudo isto vai contra a directiva comunitária Infosoc, que diz claramente que a cópia nos routers é permitida, como excepção e sabendo mesmo que se trata de uma limitação dos direitos dos titulares dos direitos de autor. Mais ainda, esta directiva não é negociável e todos os estados membros tem que a aplicar.

Em França o presidente Sarkozy propôs a criação de uma taxa de acesso à internet. Os detalhes não são muito claros ainda, mas a ideia era de que o acesso à internet iria financiar o canal público de televisão francês sem publicidade. A proposta não é só idiota, mas perigosa. Primeiro, porque se as pessoas estão a mudar os seus hábitos da TV para a Internet, isso diz respeito às pessoas, e à sua liberdade de opção. O facto de as pessoas preferirem agora utilizar a internet como meio de entretenimento e informação não pode significar por si só uma taxa. Parece uma multa à mudança. Por outro lado é perigosa para a própria França uma vez que a taxa torna-se uma limitação na disseminação de uma tecnologia que todos querem ubíqua. As reacções aliás não se fizeram esperar e a comissária europeia para as telecomunicações, Viviane Reding, disse que a proposta ia contra a “visão de uma Europa sem fronteiras e de acesso barato à internet”. Menos politicamente correcto que a comissária europeia, o CEO da rede social Xing, baseada na Alemanha, dissse “Se o Sarkozy quer retirar a França da era Digital, então deve ir em frente”. Como se alguma vez um Alemão se importasse com a França…

Em Inglaterra o governo anda a estudar a possibilidade de bloquear o acesso dos utilizadores de internet que forem apanhados a fazer downloads ilegais de música ou filmes. O rascunho da proposta está em discussão mas implica que os ISPs seriam os responsáveis por monotorizar os tráfego dos seus clientes accionando as expulsões. Os ISPs que não cumprissem poderiam ser processados e a informação privada dos suspeitos de downloads ilegais seria fornecida aos tribunais. A associação de provedores de acesso de internet britânica já veio entretanto a terreno dizer que “os ISPs não tem capacidade de verificar cada pacote tal como os Correios não podem verificar cada carta”. Por detrás desta medida parecem estar novamente as associações de direitos de autor que aplaudem a proposta, mas que mais uma vez tem a noção de que a infra-estrutura da internet está lá para ser governada com os interesses da industria da música e do cinema.

Estas três histórias mostram uma tendência na luta contra a pirataria. Depois de anos a perseguir mães solteiras e jovens de 11 anos, as associações de direitos de autor perceberam que estavam a criar uma má imagem (só agora?). Assim, procuram dar a volta a um problema fundamental que está na definição do que é o “direito de autor” e o que é a “cópia” e decidiram que a melhor acção era atacar os “pipes”, obrigando os fornecedores da estrutura de suporte da internet serem responsáveis pelas acções dos utilizadores. E isto fazendo-se através da pressão legislativa, e portanto convencendo o elo mais fraco (os políticos compram-se facilmente) para tomar medidas. Estes não percebendo nada do assunto estão a cair na cantiga e as medidas legislativas propostas mostram decisões de info-ignorantes.

Talvez pelo andar da carruagem para a semana se proíba de enviar cartas quem enviar uma cópia de um CD pelos correios a uma namorada, ou se responsabilize as “Estradas de Portugal” pelos crimes que os condutores cometerem nas estradas sob sua supervisão. Ou então que tal responsabilizar os Governantes pelos crimes praticados pelos seus cidadãos. Eu cometo o crime, o Primeiro Ministro vai preso?

Referências deste Artigo:

http://www.iht.com/articles/2008/01/21/technology/reding.php http://torrentfreak.com/pirate-bay-blocked-by-isp-080204/ http://news.bbc.co.uk/2/hi/business/7240234.stm

As eleições americanas

Não tenho acompanhado muito as eleições americanas, mas tenho uma coisa a dizer:

Não ligo aos republicanos, honestamente não me interessam, não quero saber deles, apenas quero que percam as eleições porque já não há pachorra para os aturar mais a sua guerra contra o mundo, o inteligent design, e os complots com Israel. Não há pachorra.

Por isso vamos falar dos democratas. No campo democrático não escondo que inicialmente a minha preferência caia para o lado da Hillary Clinton. Porquê? Talvez por causa de uma história mais longa a encher-nos os ouvidos, mas também por ser mulher, por pensar que teria de alguma forma a possibilidade de ser original na governação dos EUA.

Para além disso sempre que ouvia os defensores da candidatura do Barack Obama não gostava. E continuo a não gostar. Principalmente porque quem fala dele e da sua campanha fala dele como se ele fosse a pessoa certa, coisa que eu não acredito. Não há pessoas certas, apenas pessoas mais apropriadas a dado momento. Gabar-se de ser a melhor, mesmo por terceiros enervava-me.

Ultimamente tenho ouvido alguns discursos do Barack Obama e honestamente tem conseguido mudar a opinião precipitada que formei por terceiros. Continuo a não gostar da forma como os seus apoiantes falam deles, mas é um problema da forma como as campanhas são conduzidas nos EUA. Procura-se tentar passar / vender um candidato e não realmente mostrar as suas opiniões. Contudo, ouvindo directamente o que ele diz, tenho que reconhecer que mudei de opinião e neste momento tenho mais simpatia por Barack Obama do que por Hillary Clinton.

Mas o que é que isto interessa? Não sou americano, não vivo nos EUA, e muito dificilmente viverei lá… Acontece apenas que por vezes uma pessoa muda de opinião e é muito bom ser capaz de chegar à frente e dizê-lo.