Sobre a morte de Bin Laden

O regozijo pela morte de Bin Laden enoja-me, mesmo tratando-se de alguém que considero altamente criminoso como o líder da Al-Qaeda.

Consigo compreender o desejo de justiça e até certo ponto o de vingança. Agora, não consigo compreender a satisfação com que se celebra a morte, como se da vitória de um qualquer clube de futebol se tratasse. Celebrar a morte desta forma reduz-nos a animais sem raciocínio, sem elevação, e infelizmente também sem valor.

Para o futuro da sociedade é bom que Bin Laden tenha desaparecido. As suas intolerâncias são intoleráveis. Infelizmente o seu desaparecimento deixa-nos também a todos com o sabor a sangue entre dentes e esse é muito mais difícil de apagar.

Sondagens: e os partidos pequenos?

Depois de no último post ter mostrado a diferença entre os dois maiores partidos nacionais resta saber o que acontece também com os partidos mais pequenos, no caso CDS, BE e CDU. Nesta guerra da segunda liga da política nacional como é que as sondagens evoluíram ao longo dos últimos 18 meses? A figura seguinte, mostra os resultados da diferença entre CDS e (BE+CDU) ao longo dos últimos 18 meses.

Sondagens-21-abr-2011-cds-be-cdu

Daqui constata-se logo que a soma dos pequenos de esquerda é sempre superior ao pequeno de direita. No entanto as sondagens dão diferenças entre -2% e -13% (novamente com diferentes companhias a dar resultados muito diferentes).

O que surpreende é que o andamento destas sondagens parece andar em contra ciclo em relação às dos dois maiores partidos. Se a “viragem” à direita ou à esquerda fosse algo ideológico seria natural que o andamento das diferenças nos grandes partidos e nos pequenos partidos fosse semelhante. No entanto o que se verifica é exactamente o contrário. Quando o PSD tem vantagem sobre o PS parece antes verificar-se uma fuga de votos do PS para a CDU+BE e de alguma perda de votos do CDS para o PSD. E inversamente quando o PS está a melhor verifica-se o contrário (PSD a perder votos para o CDS e BE+CDU a perderem votos para o PS). Ou seja, não há verdadeiramente mudanças ideológicas.

Mas isto coloca outra questão? Qual é verdadeiramente a transferência de votos dos partidos mais pequenos para os maiores em cada ala do espectro político? Para responder a esta questão então vamos ver PS vs. (BE+CDU) e PSD vs. CDS

sondagens-dependencias-votos-esquerda-direita

Como se pode ver pelo gráfico acima a intenção de  voto no PS não parece tão correlacionada com a soma de intenções de voto no BE+CDU como o PSD com o CDS. Na direita as sondagens parecem mostrar que a votação do PSD está bastante acoplada ao voto no CDS sendo que quando o PSD tem mais intenções de voto o CDS é penalizado e vice versa.

Muitas outras questões se levantam… mas ficam para outra continuação.

 

Sondagens: Diferença entre PSD e PS nos últimos 18 meses.

Diferença PSD-PS Sondagens 21 Abril 2011

Diferença PSD-PS Sondagens 21 Abril 2011

As sondagens para as eleições portuguesas são uma coisa engraçada.

As agências de sondagens nacionais publicam resultados com tal disparidade que, ou os métodos são uma treta, ou estão a tentar influenciar o população (Será?). A verdade é que os resultados podem até ser estatisticamente significativos, mas tal não significa que o método não esteja enviesado. Como John Zaller diz no seu excelente “The Nature and Origins of Mass Opinion”, a forma como os inquéritos são conduzidos, a ordem das perguntas, a sua formulação, tudo influência o resultado final da sondagem de opinião. Isto tem tal impacto que torna estes gráficos praticamente inúteis como retrato real, mas extraordinariamente poderosos como ferramenta para influenciar eles próprios as opiniões dos leitores.

A figura acima mostra a diferença entre PSD e PS nas sondagens dos últimos 18 meses. É curioso verificar que cada empresa de sondagens parece puxar para seu lado, e em alguns casos notam-se flip flops interessantes em relação aos resultados típicos de algumas empresas. O que será que significam? Mudaram de método de repente? Serão outliers? Brevemente voltarei a este assunto… é fascinante olhar para estes dados!

update: actualizei a imagem com os dados da sondagem de hoje da Eurosondagem (Expresso/SIC/RR).

Presidenciais 2011: Diz-me com quem votas…

Hoje, o dia posterior ao dia mais frio do ano, perdão, ao dia das eleições presidenciais, decidi meter-me a brincar com os resultados (inspirado pelo excelente trabalho do António) para o Observatorium. Assim peguei nos 308 concelhos e fui procurar quem vota similarmente a quem.

Eleições Presidenciais: Quem votou com quem?

Eleições Presidenciais: Quem votou com quem? (clique para ver em grande)

A estratégia utilizada foi:

Cada concelho tem o resultado representado por um vector de 6 componentes (os candidatos). Entre todos os pares (a,b) de concelhos é calculada a similaridade de votação através do co-seno do ângulo formado entre a e b (cos(a^b))

cos(a^b)=a.b/(|a||b|)

onde a.b é o produto interno e || representa a norma do vector.

Depois a partir da matriz de similaridade foram estabelecidas apenas as ligações com valor de cos(a^b)>0,9995 e removidos todos os concelhos que tinham grau zero (zero ligações) para facilitar a leitura da rede e aí temos, os concelhos que votam da mesma forma que outros.

É curiosa a formação de alguns clusters inesperados, mas a análise política deixo para outros.

Já agora os dois municípios mais antagónicos do país? Vale de Cambra e Santa Cruz

Vale de Cambra Cavaco Silva    61.76% Manuel Alegre    15.15% Fernando Nobre    14.54% José Coelho    4.39% Francisco Lopes    2.95% Defensor Moura    1.21%

Santa Cruz José Coelho    47.78% Cavaco Silva    36.32% Fernando Nobre    7.36% Manuel Alegre    6.13% Francisco Lopes    1.67% Defensor Moura    0.75%

O Trio Odemira a cozinhar os próximos 5 anos

Cavaco, Sócrates e Manuela: Para governar é preciso várias coisas e com um ano de eleições a cada 2 meses, estes 3 personagens viram-se num DILEMA. Nenhum sabe governar, embora saibam todos mandar. E governar e mandar são coisas completamente diferentes: Para mandar é preciso ter maiorias absolutas, quase ditatoriais. Para governar é preciso saber dialogar. Como nenhum dos 3 sabe dialogar, estão já a preparar-se para fazer um “bloco central” para conseguirem MANDAR. E com o medo da diversidade de opiniões, do diálogo e da diferença, lá se preparam para fazer um país CINZENTÃO, onde todos vestem ganga azul, trabalham 16 horas por dia e não tem à mesa mais que PÃO.

É tramado ainda não ter havido umas únicas eleições e ver já os 3 a preparem-se para dividir os tachos, tudo claro, sob a capa da estabilidade e da mediocridade intelectual.

Manuela Ferreira Leite e a Democracia!

[audio:http://pod-serve.com/audiofile/filename/9163/sommflsemdemocracia_manuela_ferreira_leite.mp3]

É inadmissível que esta senhora se chame política e muito menos política no activo. Não chegam os disparates do PM e seus ministros, que ainda vem a líder[sic] do principal partido da oposição dar-lhe votos de bandeja.

Se calhar estou enganado e esta senhora é antes o Pai Natal e tornou-se líder do PSD apenas para pôr uma prenda no sapatinho do PM.

update (mais calmo): mas o mais grave é que independentemente de virem a chamar ironia, a senhora não tem pejo em brincar com algo tão fundamental como o princípio da nossa republica moderna. Tal com em França o Le Pen não tinha em relação à dele.

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Há dias em que é bom acordar com ressaca e dor de cabeça…

A noite de ontem foi uma correria entre blogs, twitters e televisões, mas felizmente conseguimos ir dormir relativamente cedo.

Agora é altura de esperar que em Janeiro, Barack Obama, o novo presidente americano, consiga de uma vez por todas levantar o seu país e com ele o mundo. [ad#ad-1] A meu ver estou bastante interessado no que será decidido ao nível da protecção ambiental, nomeadamente na assinatura dos tratados ambientais que o anterior presidente tanto teimou em não assinar. Uma outra coisa que espero que melhore tem a ver com a questão do ensino de ciência, que atravessa(ou) os anos negros com folclore e medos religiosos a serem pregados como verdades científicas. Está na altura de também aí os EUA(ou alguns americanos) e o mundo aproveitarem a mudança e crescerem um pouco.

E por fim espero que a nível internacional os americanos passem a ter uma atitude mais de cooperação e menos beligerante. A indústria de armamento tem que deixar de ser prioridade e é altura de dar lugar a indústrias que sejam fomentadores da qualidade de vida no planeta e do aproveitamento dos nossos escassos recursos. Energias renováveis, desenvolvimento sustentável, aproveitamento de recursos, são chavões que tem que sair do papel e escritórios dos falcões e passar à realidade do dia das populações. E serão também, a meu ver, a melhor forma de dar a volta a um modelo económico em crise de um ocidente envelhecido.

Por fim, uma pequena farpa para 2009 em Portugal. Espero que consigamos ter por cá políticos com a capacidade de gerar discussões tão interessantes quanto as que fomos assistindo este ano nos EUA. Se os políticos forem bons, certamente conseguirão trazer para a discussão cidadãos jovens, empenhados e apaixonados.