O público traz hoje uma reportagem na secção digital sobre a Televisão Digital Terrestre (TDT) bastante interessante, o que me levou a reflectir sobre aquilo que se avizinha para Portugal.
Há algum tempo quando procurava comprar um PDA, lembro-me que havia um modelo da Palm, o TX que vinha preparado com receptor de TDT. Na altura pensei “olha David, até podias começar a ver um pouco de Televisão”. Claro que este raciocínio só funcionaria se o TDT existisse em Portugal. Assim acabei por comprar outro PDA com outros gadgets e estou muito feliz. Continuo sem ver grande televisão, mas também não tenho que assistir a algumas barbaridades do nossos dirigentes (esperemos que a equipa de censura do governo não leia este blog).
Mas voltando à TDT. A União Europeia programou o Switch Off do sinal analógico para 2012, mas acontece que esta mudança vai obrigar muito televisor “velho” a ser mandado para o lixo, e muita set top box a ser comprada obrigatoriamente. Isto causa transtornos enormes para as empresas produtoras e também para os utilizadores nacionais (60% dos quais, segundo a notícia do público, ainda estão ligados apenas analogicamente). Para além disso lendo a reportagem do público verifica-se que o posicionamento estratégico das empresas eventualmente interessadas no TDT versa mais sobre a manutenção de um estado de coisas do que propriamente uma democratização do espaço televisivo português.
Se naturalmente as empresas privadas que já operam não querem ver as suas fatias de share (e consequentemente de receitas publicitárias) diminuir, aquelas que procuram entrar também não parecem dispostas a realmente criar novos canais e conteúdos alternativos uma vez que algumas já tem parecerias com o cabo (exemplo do futebol do Joaquim Oliveira) e olham para o TDT como uma forma de dominar também o sinal aberto.
Penso que a TDT poderia ser uma oportunidade para “democratizar” o espectro televisivo português, aliando a tal falada inovação do Zé com um estimulo ao investimento e à variedade, mas temo que tudo se processe como uma simples transição de plataforma, mantendo-se o actual marasmo, apenas com um suporte diferente. E ainda por cima, com o nosso tradicional atraso e com custos extra para a população.
A única forma de deixarmos de ser a cauda desta Europa é deixarmos de seguir os outros. É apostar em determinado rumo, de preferência o melhor para Portugal, e investir. Tomar decisões quanto aos processos a adoptar baseando-as nas soluções técnicas melhores e aceitar e defender as opções tomadas. Enquanto continuarmos no pára arranca, sem haver definições sobre as coisas, a TDT, como em muitas outras áreas, continuará apenas no papel ou em testes piloto de algumas companhias privadas e não será a realidade. Quando finalmente a implementarmos, já estaremos a correr atrás de outro atraso qualquer, numa outra tecnologia e a cometer os mesmos erros.