Há uma coisa que me intriga na publicação do livro sobre o desaparecimento / rapto / homicídio / morte (risquem o que não gostarem) da filha do casal McCann:
Ou o ex-inspector da polícia judiciária Gonçalo Amaral foi afastado do caso por incompetência ou foi afastado do caso por tráfico de influências. E isto é grave em ambos os casos.
No primeiro, tratando-se de incompetência, não se percebe porque agora se daria crédito ao que ele escreve, uma vez que não passariam de rumores fantasiosos sobre o caso. No segundo, esperava-se que o livro revelasse de onde vieram e como foram exercidas as tais pressões. Tratar-se-ia de um livro de denúncia do sistema, pondo a nu os tráficos de influências.
Ora, tal não parece ser o que acontecerá no livro, limitando-se sim a ser um conjunto de opiniões (julgo que os mencionados no livro optarão por colocar a palavra “difamações” aqui) do próprio, nem provando o que aconteceu na realidade (o que revelaria incompetência própria quando lá esteve), nem provando o mau funcionamento do “sistema” (o que provocaria reacções, investigações e mais demissões na judiciária).
As duas possibilidades não são compatíveis uma com a outra. O que o livro sobre os McCann mostra é que um assunto destes pode render dinheiro, muito dinheiro, e que neste verão vamos ver muitas cópias do “Maddie: a Verdade da Mentira” nos areais portugueses. É uma espécie de folhetim, que vai agradar ao coscuvilheiro nacional, que vai poder opinar, discutir e julgar o caso em praça pública mais uma vez. Tudo para sucesso do autor do livro.
Aliás, é bom que venda bastante, porque os processos por difamação devem estar a ser preparados e todos sabemos o quanto custa pagar um advogado hoje em dia.