Está a fotografia digital a chegar à idade adulta?

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Durante quase 100 anos o formato 135 (36x24mm) estabeleceu-se como o formato da fotografia por excelência. Embora muitos defendam outras proporções, a verdade é que o 36×24 dominou a fotografia do século XX, moldou o olhar, criou uma forma de ver o mundo. Com isso o formato deixou de ser um factor importante no momento de disparar o obturador. Os fotógrafos incorporaram-no e o formato passou a ser “normal”.

Com o inicio do digital, a produção de sensores com o tamanho normal era impraticável pelo que surgiram uma série de sensores de tamanhos menores. De repente o formato “normal” deixou de o ser e os fotógrafos tiveram que ter em linha de conta que os 50mm já não o eram na prática (embora continuassem a projectar objectos com o mesmo tamanho no sensor). O factor de corte passou a fazer parte das variáveis tidas em linha de conta no momento da fotografia. Diferentes câmaras, implicam diferentes factores de corte e dizer que uma 50mm quando montada num corpo DX corresponde a uma lente 75mm num corpo FX passou a ser um exercício corrente (se bem que incorrecto).

Apesar da ainda existirem muitas máquinas com o factor de corte a verdade é que nos últimos tempos temos assistido à chegada dos sensores Full Frame em definitivo [ao contrário do que aconteceu com os primeiros casos Full Frame (ex. Contax 1N)].

Assim no momento temos as seguintes máquinas FF: Nikon: D700, D3, D3X Canon: 5D Mark II, 1Ds Mark III Sony: Alfa 900

Os rumores parecem indicar que no futuro próximo vão surgir mais máquinas de formato Full Frame, nomeadamente: A Sony Alfa 850 (o manual foi colocado online acidentalmente revelando um sensor full frame de 25MP) deverá ser anunciada no evento que a Sony tem marcado para 28 de Agosto , Leica M9 [ 18MP, com possível lançamento a 9 / 9 / 2009 ] , Zeiss Ikon Digital [ Fruto da parceria com a Sony], e a Canon que possivelmente lançará a EOS 7D no evento de 1 de Setembro (o de 19 de Agosto estará reservado para as compactas. E nisto tudo falta a Nikon que também tem duas conferências agendadas!

Estes rumores tem a particularidade de ser encontrar entre eles a referência a duas máquinas do tipo rangefinder, a Leica M9 e a Zeiss Ikon Digital, ambas de formato Full Frame. Esta é para mim, talvez a grande novidade que até ao final do ano será esclarecida. Se os possíveis lançamentos da Sony e Canon são as esperadas evoluções de produtos que já possuem, Leica e Zeiss preparam-se para assumir finalmente que o Digital consegue ter sensores que igualem o tamanho dito normal e que a tecnologia pode ser aplicada em máquinas cujas lentes estão muito mais próximas do plano de focagem (com as consequentes limitações dos sensores) sem deterioração da qualidade de imagem.

Com a panóplia de máquinas Full Frame que cada vez mais se observa no mercado (e ainda podendo considerar que há algum espaço de manobra para o formato com crop) e principalmente com a chegada do FF ao mundo Rangefinder, fecha-se um ciclo. A fotografia volta a casa, à visão “normal” do mundo. Nos últimos anos os fotógrafos tiveram que se habituar a utilizar uma 50mm como lente de retrato, a menos que estivessem numa full frame ou em filme. Foi durante muito tempo mais um factor mecanicista a considerar. Com o atingir desta maioridade este factor desaparecerá da construção fotográfica, libertando o fotógrafo para se preocupar apenas com a fotografia.

Depois do eventual lançamento destas duas máquinas faltará apenas que Mr. Kobayashi se decida por fabricar uma Voigtländer R Digital Full Frame para os pobres como eu, ou ainda perderei a cabeça por uma Zeiss Ikon Digital quando surgir.