Explicações para este país, precisam-se!

Num destes dias, no café em frente a minha casa, quando me preparava para pagar, vi uns papeis que estavam a ser distribuídos na caixa. Não sou de olhar para esses papeluchos que se distribuem a quem quiser pegar, mas por algum motivo este chamou-me a atenção. Dizia o seguinte:

EXPLICAÇÕES

MATEMÁTICA, FÍSICA, QUÍMICA

Ensino Preparatório, Secundário e Unviversitário

Recém doutorado em Biotecnologia e Eng. Bioquímica pelo I.S.T. (Instituto Superior Técnico)

Contactos: XXXXX e email@qqrcoisa.com

Fiquei pasmado. Então é assim que um recém doutorado ganha a vida! Fala-se neste país em choque tecnológico, em fomentar o trabalho científico, em tecnologias de ponta, mas a verdade é que nunca ouvi dos nossos dirigentes uma explicação capaz sobre o que verdadeiramente um doutorado faz em Portugal. Na minha ingenuidade pensava que faria investigação, que ajudasse na descoberta de curas para doenças, que implementasse ideias novas na indústria, permitindo-lhe ganhar proveitos extra, no fundo sempre pensei que ajudasse a melhorar a nossa sociedade.

Agora já não me espanto quando ouço que há tantos portugueses a soldo de universidades “estrangeiras”, a fazer furor na comunidade científica “estrangeira” e dizer que voltar a Portugal só quando for de caixão e para meter debaixo da terra bem fundo.

No fim de um café matinal, quando me preparava para um dia que prometia ser produtivo, eis que um papelucho, um simples e reles papel deixado na caixa de um café, conseguiu destruir a esperança que estes acordos com o MIT ou com outro qualquer possam ter algum impacto significativo no desenvolvimento do país. Pelos vistos, e chamem-me crédulo se quiserem, estudar 12 anos, seguidos de 5 de licenciatura e outros 4 de doutoramento (partindo do pressuposto que se saltou o mestrado), ou seja 21 anos de estudo, serve em Portugal para se dar EXPLICAÇÕES. Alguma coisa está errada nisto tudo, mas se calhar só eu é que penso assim… se calhar é mesmo para isso que um doutorado serve.

E assim começa mais uma semana, doutor.