F1: Houve em tempos um desporto…

Houve em tempos um desporto de automóveis chamado fórmula 1. Dava aos domingos, normalmente à hora de almoço. Não era um desporto limpo, havia mecânicos, havia toques e alguns despistes. Andava-se nos limites e os mecânicos andavam numa luta para mudar 4 pneus em 4.1 segundos (Ferrari).

Ao Domingo lá em casa juntavam-se defensores do turbo contra defensores do aspirado, defensores da suspensão inteligente contra defensores da suspensão tradicional, os Sennas e os Prost, o Mansells e o Piquets, novos e miudos para verem um dos desportos mais excitantes do planeta.

Geravam-se discussões violentas e apaixonadas que duravam enquanto a RTP transmitia durante aquelas 2h. Não imaginam a desilusão de alguns da primeira vez que a Ferrari abandonou os V12 em favor dos V10… ou a loucura que foi assistir à primeira volta do grande prémio de Donington Park em 1993 (veja o vídeo)

[youtube http://www.youtube.com/watch?v=cA3Hy0pTjNk]

Depois alguém acabou com a F1, passou a dar em canal fechado, porque afinal não era de interesse público, passou a ser dominada pelos interesses financeiros de alguns abutres que a pretexto de sabe-se lá o quê a queriam tornar num desporto limpo, clean. Vieram os pneus com sulcos, os motores mais pequenos, os ailerons pinga amor, e toda uma série de decisões que ano após ano pareciam querer condenar as gloriosas corridas de carros a uma simples procissão de domingo de manhã.

Deixei de ver a F1 há alguns anos, quando se mudou para a TV de canal fechado. Continuo a saber o que se vai passando pelos jornais da especialidade e é com a maior tristeza que verifico que os patrões da fórmula 1 conseguiram o que procuravam. Tornaram a F1 limpa… não há ultrapassagens, não há disputas, não há um motor a partir, um tanque de gasolina a esvaziar-se mais depressa do que o devido, nada… Tão limpa está que não há nada… e a parte suja deste desporto passou toda para os bastidores. As espionagens da Maclaren à Ferrari e a decisão de penalizar sem penalizar a Maclaren mostram o quão baixo este desporto chegou.

Para infelicidade de todos esta é a F1 que temos e com a qual teremos que viver. Temos é o direito de achar que já não se trata de desporto e o direito de nos sentirmos indignados com o que os actuais patrões andam a fazer à memória dos outros, dos genuínos membros do circo.