Com o advento dos computadores as máquinas de escrever quase desapareceram dos escritórios e secretárias, para passarem a ser apenas um objecto decorativo que apenas encontram as montras de lojas para se mostrar.
É verdade que as máquinas de escrever têm um look retro e há antiquários que as querem vender como jóias de um tempo que jamais voltará. No entanto os preços que alguns vendedores pedem pelas máquinas de escrever são disparatados. Quando me perguntam quanto vale uma máquina de escrever antiga, digo que vale menos do que pagaram por ela. Não compreendo essa obsessão de fazer das coisas mecânicas uma preciosidade.
Em termos práticos: Nenhuma máquina de escrever manual posterior a 1960 vale mais de 30€-40€ e isto se se encontrar em muito bom estado de funcionamento. Quem quer que esteja a pedir mais está apenas a tentar caçar o papalvo entusiasmado com a ideia de ser “cool” ou “retro”. As máquinas são mecânicas e como tal sujeitas a desgaste. Novas poderiam escrever facilmente milhões de palavras. Usadas? Nunca se saberá quanto tempo sobrevirão e as peças e reparações são difíceis de arranjar.
As máquinas de escrever avariadas apenas servem para peças (ou para decorar montras) e como tal não valem mais do que 10€. Não percebo como pedem fortunas. Foram construídas aos milhões em todo o mundo e que apesar de já não serem fabricadas são bastante fáceis de encontrar—principalmente avariadas ou com reparações tipo MacGyver. Em Portugal temos todos a mania de não fazer negócios. Preferimos ter as coisas a apodrecer num armazém fedorento espreando que algum Xá do petróleo nos compre o lixo. Parece doença crónica deste país.
eu ainda utilizo máquinas de escrever Mas ainda há quem prefira escrever nas barulhentas máquinas de escrever? Sim, o click clack que não perdoa. Não há “undo” ou “backspace”. Nos computadores é muito fácil escrever o draft e em simultâneo começar a editar, a corrigir. Numa máquina de escrever todo o erro é eterno, permanente, pelo que quando se escreve um primeiro draft sabe-se que será definitivo e obriga o autor a escrever novamente tudo (e aí sim a editar) quando passa para o computador. O primeiro draft na máquina de escrever não deixa voltar a trás e a perdermo-nos com o detalhe. Obriga a andar para a frente, a colocar no papel em grandes traços toda uma ideia. O detalhe virá depois.
Para quem escreve muito—e para quem escreve com ideia de fazer revisão do que escreve no computador—a máquina de escrever é um instrumento precioso. Mas também o são a caneta e bom papel. As máquinas de escrever não valem, nem nos sonhos mais benevolentes—estive quase para escrever eróticos aqui—aquilo que alguns “antiquários” querem chamar de “vintage”. Simplesmente NÃO.