São completamente surpreendentes os desacatos em Londres por estes dias? No tempo em que tudo é imediato, onde o processo para fazer algo não interessa e apenas importa o agora e o já, alguém se surpreende que uma juventude desempregada e sem dinheiro estivesse à espera de uma faísca para explodir a deitar mão daquilo que quer e lhe apetece? Os subúrbios urbanos são barris de pólvora prontos a rebentar, em Londres, Paris ou Marselha. A comunicação dos media retrata sociedades de plástico, perfeitas e normalizadas, mas as realidades são múltiplas e com reais dificuldades em muitos locais.
O problema é estrutural e transversal à sociedade, a forma como a sociedade moderna é estratificada leva a produção de mega-urbes onde as dificuldades de vida e as assimetrias se acentuam. A taxa de desemprego entre os jovens é elevada (há quem se refira esta geração como a geração perdida) quer em Inglaterra, França, Espanha ou Portugal…
Claro que nada disto serve de justificação para o que se está a passar. O governo Britânico anuncia que vai perseguir e julgar os instigadores de desacatos e de violência, e bem. A sociedade só existe enquanto houver ordem e regras. Mas por outro lado é preciso que o governo Britânico (e outros) não se fique pela repressão dos acontecimentos e tentem incorporar ensinamentos destes eventos, nomeadamente nas questões sociais que levaram a que isto tenha acontecido. Não se pode perceber a sociedade cortando uma fatia da população. No alto dos palanques da oratória política é também necessário ouvir.