Segundo o Guardian, Julian Assange prepara-se para concorrer ao senado australiano. Ora isto não tem nada a ver com ser eleito.
No mundo actual há duas formas de lutar contra o sistema. Uma, é ter um perfil de pop-star, vedeta com a qual todos se identificam e com a qual podem simpatizar ainda antes de saber qual a causa que defendem (veja-se a recente prisão do George Clooney). Este é o caminho que Assange traça para si e para a sua Wikileaks. Através de um frontman capaz de atrair atenções procura expor a sua mensagem e a sua luta.
A outra forma é a adoptada por grupos como o Anonymous onde a ideia de base é que uma luta distribuída os protegerá da justiça e permitirá a continuada acção de luta sem que o individual se torne alvo a atacar.
Ambos os métodos são no entanto atacáveis pelos poderes que os querem fora de circulação (não estou a julgar aqui o mérito ou demérito de nenhum destas organizações). A resiliência destas organizações depende do sucesso a ataques e em ambos os casos verificou-se que ambos os sistemas tem pontos fracos. No caso de uma organização que depende de um frontman ataca-se o topo da pirâmide e o que está debaixo desaparece, ou pelo menos ficou muito mais fraco.
No caso do Anonymous o problema é que sendo uma rede distribuída de confiança torna-se um alvo a ser infiltrada por qualquer um, foi isso que aconteceu recentemente quando se descobriu que afinal alguns membros do Anonymous eram agentes/informadores do FBI. Isto destruiu o mecanismo de confiança dos seus membros e fez com o movimento implodisse com receio das acusações legais.
A ida de Assange para senado australiano é naturalmente uma jogada de dois objectivos, por um lado é a continuação da estratégia de vedeta que procura manter na actualidade um tema, neste caso a sua própria personagem. Por outro uma tentativa de obter protecção no seio daquilo que sempre colocou em causa e dessa forma forçar o meio político a mexer-se e a tomar posições (mesmo que contra Assange).