Appple vs. Samsung – Vamos todos vestir de branco com cantos arredondados?

A parte mais preocupante da decisão do tribunal no caso Apple-Samsung é a leitura, que vi em alguns sites, segundo a qual a Apple foi capaz de demonstrar que na gama alta dos smartphones o público só quer um modelo de telefone (leia-se iphone).

Esta leitura é completamente abusiva e infelizmente mostra uma visão do mercado global centrada numa ideia monopolista do mercado. É uma visão monocromática e misógina do planeta, acreditar que os humanos se regem por uma única medida, por um único gosto. É o cúmulo da normalização, da igualdade pela força das patentes.

Ao belo estilo chinês, qualquer dia estaremos todos a vestir um uniforme militar branco, a utilizar todos o mesmo tipo de escova de dentes, branca, ou a conduzir o mesmo modelo de carro (Era assim com o Ford T ou o Trabant e parece que a esses tempos voltaremos). Tudo desde que possua cantos arredondados, seja branco e tenha uma maçã abocanhada como logo.

O pior desta decisão não tem a ver com quem ganhou ou perdeu. O pior desta decisão é a validação de um sistema de protecção de propriedade intelectual que permite efectivamente bloquear o progresso e manter a sociedade refém do avanço tecnológico e científico, considerando o autor mais importante que a sociedade e obrigando a sociedade a submeter-se aos caprichos arredondados dos seus advogados.

google android touchscreen

onde é que eu já vi isto?

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Será que foi no iPhone? Aquele produto lançado há 1 ano? A verdade é que tem coisas muito parecidas mesmo. Será que a apple vai mostrar as garras e utilizar as tais 200 patentes que diz ter contra o Android?

Dividindo para conquistar

Recentemente a Microsoft estabeleceu acordos de protecção de patentes com a Novell, Xandros e Linspire. Acordos esses que foram muito publicitados e que envolvem a protecção dos seus clientes contra a violação de patentes que eventualmente a Microsoft possa possuir sobre as tecnologias utilizadas. Ora a Microsoft pelo seu cão de fila, Steve Balmer, veio também dizer recentemente que o linux infringia uma enormidade de patentes, recusando-se a dizer quais. Objectivo, atemorizar.

Do outro lado da barricada, Ubuntu, Debian, RedHat e agora a Mandriva através do seu blogue, vem dizer que não concordam com esta espécie de protecção virtual sobre qualquer coisa pouco clara, e manifestam o seu descontentamento com o sistema de patentes em vigor. Para além do mais desafiam a Microsoft a expor quais as patentes que realmente estariam a violar antes de começar qualquer tipo de conversação.

Mas isto tudo tem um efeito perverso, que é o de dividir o mundo pinguim entre aqueles que seguem o caminho fácil e os que continuam a acreditar na liberdade do código aberto. Esta cisão poderá servir como catalisador para algumas companhias menos ousadas, mas será também uma oportunidade para os resistentes. Inúmeros colaboradores dos projectos linux fazem-no por causa dessa fidelidade ao open-source. Acredito que as empresas que agora se submetem ao jugo da Microsoft se vão diluir, perder expressão e ter dificuldade em angariar novos membros para as suas respectivas comunidades, sabendo que tudo para o que trabalharem estará à distância de uma simples decisão de Redmond de acabar. As que não vergarem irão granjear o respeito e o apoio dos inúmeros colaboradores que tem e eventualmente irão acabar por ir buscar massa cinzenta às primeiras. Terão algumas dificuldades, nomeadamente no que diz respeito a manter a imagem do linux contra as campanhas de FUD (Fear, uncertainty and doubt) que a Microsoft amiúde produz, mas manterão a sua integridade e o respeito de quem colabora com eles.

Posso estar enganado, mas no futuro sairão vencedores aqueles que agora, mesmo passando algumas dificuldades, se opuserem a essa lógica mafiosa da protecção arbitrária, apenas porque a Microsoft diz que precisam de protecção. Faz-me lembrar os sistemas de protecção da máfia nova iorquina que se vêem nos filmes. “Ou pagas ou venho aqui e parto-te a casa toda. Por isso precisas de protecção”. Eu chamo-lhe extorsão.