Uma (só?) pergunta a Steve Jobs

Ainda no seguimento do anúncio do SDK para desenvolvimento de aplicações para o iPhone, gerou-se uma discussão interessantíssima no twitter (ainda precisa de uma razão para se juntar e participar da melhor pool de discussão do planeta?) com o Levi Figueira e com o Luis Rei. O assunto também foi seguido pelo Phil e depois de ter passado algum tempo a reflectir não posso deixar de dizer algumas coisas. São as minhas opiniões, podem ser também as de outros, mas como opiniões que são não são estanques, nem são verdades absolutas… Cada um deve tomar a dosagem que quiser.

A apple produziu um aparelho apetitoso, isso não é discutível. Todos o querem e a apple sabendo isso decidiu que seria a sua vaca gorda para poder espremer enquanto puder…

Assim a meu ver, a apple decidiu criar dois tipos de taxas: Uma taxa ao utilizador final que para além de comprar o aparelho, tem que pagar um contrato durante 2 anos o que eleva o preço final para mais do dobro e do qual a Apple cobra uma percentagem. E agora com o SDK, uma taxa sobre os Developers que para verem as suas aplicações distribuídas tem que aderir ao programa da Apple pagando $99. Cobra ainda 30% do valor de venda do software (se o developer decidir cobrar alguma coisa, claro). Assim, a Apple cobra uma taxa a toda a cadeia desde a produção ao consumo.

Ora é sobre esta última taxa que se gerou grande parte da discussão, mas o que eu gostava de saber era o seguinte:

O Steve Jobs na apresentação do SDK para o iPhone disse que os 30% a cobrar pela Apple não tinham o intuito de “fazer dinheiro” mas apenas serviam para manter a loja das aplicações para o iPhone. Ora independentemente da legitimidade disto eu gostava era de saber como é que este valor de 30% foi calculado? Mais precisamente…

  • Qual o valor estimado para o preço médio por aplicação?
  • Qual o número de aplicações esperadas na loja?
  • Qual a estimativa do custo de manutenção da aplicação na loja?

Com esta questões podíamos tentar perceber se 30% é muito, pouco, justo ou nem por isso. É que estamos a falar de software e isto quer dizer que quem produz com intuito comercial, sabe que o seu produto tem uma despesa extra de 30% para ser comercializado numa altura em que as margens de lucro andam muito, muito baixas para a maioria dos developers. Para além disso esta taxa não parece funcionar em termos de economia de escala. 30% para quem vender 10 aplicações é uma coisa… mas para uma aplicação popular que venda 100000 cópias é outra coisa completamente diferente e as despesas não crescem linearmente. Como justificar a mesma taxa?

Por fim resta a velha questão do iPod Touch vir a ter um preço diferente, por causa do sistema de contabilização, para o update para a versão 2.0. Ora se o problema é ter que cobrar alguma coisa porque não adopta a Apple um preço simbólico como quando fez com o update da Airport Extreme? E terá mesmo que cobrar alguma coisa ou é uma forma fácil de ganhar dinheiro nos países onde ainda não colocou à venda o iPhone? O Pedro Telles tem um excelente artigo onde desmonta esta falácia e explica o funcionamento da Vaca da Apple.

Em conclusão, o mundo iPhone a partir de agora não será naturalmente o mesmo, será melhor! Disso não há dúvidas, mas não me parece que venha a ser o sucesso de que todos falam. Principalmente por causa de uma comparação que o Phil me lembrou e que é muito apropriada.

Muitos compraram a PSP da Sony e muitos compraram jogos oficiais. A PSP é um sucesso e todos gostam… mas vamos fazer uma pergunta típica da PSP? Quantos jogos compraste para a PSP? e Quantos jogos “encontraste” no BitTorrent ou no Megaupload para a PSP?

Cada um que responda a esta questão como quiser, mas a verdade é que a PSP tem uma comunidade de Homebrew muito grande. O aparelho proporciona-se a isso, e muitos compraram o aparelho por causa disso mesmo.

O iPhone a partir de agora com o SDK fica melhor, muito melhor servido, mas também fica a comunidade de homebrew que agora tem a melhor plataforma do mundo para fazer o development (XCode), faltando apenas arranjar forma de fazer o bypass ao AppStore…

Atendendo a que todos os firmwares até agora foram quebrados, não vejo porque não acontecerá o mesmo com o 2.0… Bons tempos virão.

Sobre a Apple e o SDK do iPhone

Foto de bwana

A Apple anunciou hoje o SDK para o iPhone. Não vou aqui correr todos pormenores do evento mas a minha primeira impressão é que mais uma vez a Apple faz, mas só aos bocadinhos… Mas vamos por partes:

A distribuição de aplicações só pode ser feita directamente no iPhone através de uma Loja nova (App Store) ou seja a versão da Apple do Installer.App ou então através do iTunes, sendo que a Apple vai controlar todo o processo.

As aplicações vão ser assinadas digitalmente e o developer vai poder decidir o preço, sendo que a apple cobra 30%… COMO? Se o SDK permitisse desenvolver as aplicações fora dessa App Store o developer não teria que partilhar o valor da venda com a Apple, mas assim não… A Apple quer ganhar dinheiro com o desenvolvimento dos outros por muito que o Steve Jobs diga que aquilo é só para manutenção da loja.

O extraordinário é que o cobrar de uma taxa, quando dito daquela forma até parece que é um benefício que a apple está a dar aos Developers…

Open Source? Nem pensar! Pode haver aplicações gratuitas mas nada de Open Source… Isto é para fazer dinheiro.

O custo da brincadeira é que quem quiser programar para o iPhone vai largar $99 para colocar a aplicação na loja e vai andar sujeito aos caprichos da apple.

Se por um lado a loja pode dar visibilidade às aplicações, imaginem o que acontece se de repente começarem a aparecer milhares (milhões) de apps como no Facebook? Ou vai a Apple começar a rejeitar aplicações baseado apenas num número de slots possível na tal App Store?

VoIP? Aplicações de VoIP só se for quando o aparelho estiver ligado via Wi-Fi que não queremos chatear a AT&T… Primeiro defendemos os interesses dos parceiros e accionistas, só depois os clientes.

iPods? é pá, esse irmão vergonhoso do iPhone? As apps funcionam, mas preparem-se para pagar mais por elas. Quanto? Ah, isso não sabemos… Em Junho!

E ainda…

Outra coisa que me chamou a atenção… o SDK do iPhone é só lá para Junho, porque para já é apenas um Beta de 2,1Gb… e não há novidades do iPhone 3G… que pelo andar da carruagem nunca haverá…

E também não houve novos operadores, mas houve tralha para agradar às empresas através da introdução do ActiveSync e a possibilidade de utilizar servidores de Exchange… (UAU!!!, boa Mike)

Enfim, a sensação com que fico é que desde a apresentação do iPhone em Janeiro de 2007 que não houve uma apresentação em que não se fique com a sensação de que a Apple está apenas espremer a vaca até dar a última gota de leite. Não há nada de verdadeiramente excitante desde o ecrã táctil do iPhone e a verdade é que toda a imaginação que este aparelho despertou nos utilizadores, não teve uma correspondência por parte da Apple em realizar esses sonhos. Parece que se limitou sempre a correr atrás do que os que ousaram hackar o aparelho fizeram em vez de ser ela o motor de inspiração. Infelizmente.

Exciting Enterprise Features?

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Só uma empresa como a Apple para juntar na mesma frase “Exciting” e “Enterprise features” e a coisa realmente funcionar como se fosse efectivamente excitante… e conseguir por todos os patos, incluindo este vosso aqui, a falar do assunto…

Quack!

Apple: SDK para o iPhone, finalmente

Finalmente a Apple percebeu que não pode continuar a ser teimosa e a lutar contra aquilo que verdadeiramente as pessoas querem: Aplicações nativas para o iPhone. Claro que só vai estar disponível lá para Fevereiro de 2008 mas pelo menos já há a promessa de vir a existir um SDK.

Claro que na carta aberta, sua santidade aproveitou para responder à campanha da Nokia sobre produtos verdadeiramente abertos, o que não deixa de ser giro de seguir só por si.

Nota: Aliás, pergunto-me mesmo se a Apple teria alguma alternativa com as pressões do surgimento da plataforma do Google, o gPhone… e da Nokia a começar a fazer touchscreens…